Uma escola de vida comunitária

24-01-2013 15:34

Culturalmente crescemos num contexto de valorização do indivíduo, em plena conquista ainda da consciência da importância do indivíduo, destacando-se da massa amorfa de gente, sem capacidade crítica nem real capacidade de escolha.

Ainda hoje o Eu precisa de viver uma batalha de afirmação que começa cedo e pode durar toda a vida. Um caminho de escolhas que pressupõe um ambiente protegido por uma área protegida, uma área de conforto, onde o não exista diluição do Eu nem confronto com diferenças, constantemente.

Por tudo isto, voltar a uma vida comunitária de partilha e proximidade causa resistências, acorda anti-corpos, inconscientes medos de contrastes desconfortáveis e de adaptação inútil e desagradável a pessoas. Timidez, insegurança, receio, preguiça, adiamento sistemático, muitos são os processos.

Há uma coisa que o tempo não faz: Voltar atrás. Para o bem e para o mal, o tempo não recua e fluíndo não podemos evitar evoluir.

Uma vida comunitária nos dias de hoje, não é uma vida comunitária dos tempos da idade das trevas. As trevas de hoje são outras. São essa tampa de panela de pressão sem pipo, com regras de mercado que não tem em conta que as pessoas respiram, amam e vivem muito além das regras arbitrárias dos mercados financeiros. A idade das trevas de hoje é sermos indivíduos sim, mas coisificados. De forma a ficarmos muito mais indefesos, sem forma de contornar obstáculos absurdos criados por realidades abstratas, económicas, esmagadoras e cegas para as realidades humanas.

Uma vida comunitária nos dias de hoje, em centros urbanos, em pequenos lugares, pressupõe uma reconquista de confiança em nós mesmos e nos outros. A certeza de que posso ser eu mesma junto dos outros e de que os outros são formidáveis em alguns aspectos que quero ter na minha vida.

Começa-se simples. Encontros simples, contactos simples, convivios simples. Os olhares, os risos, as palavras, os momentos fazem os alicerces naturalmente. As verdades ditas, os sonhos partilhados, os projectos malucos confessados, levam-nos ao passo seguinte. Falar sobre tudo isso com prazer, entusiasmo, generosidade, com tantas perspectivas; uma comunidade humana pode começar assim.

O que nasce para singrar precisa de arrancar de um solo de alegria, nutrição e diversidade. Faremos isso por tudo em nós, pelo nosso papel nas nossas comunidades, pelas nossas crianças dentro dessas comunidades e pelas nossas famílias.

Porque não temos de estar sempre à espera que estruturas exteriores, podres e obsoletas, nos resolvam problemas das nossas casas para fora e de fora para dentro das nossas casas. A maior parte das soluções apenas pressupõe gente de bem. Apenas gente como nós. Apenas as pessoas certas no momento certo. E são essas que queremos listar, conhecer, ver registar e pertencer à nossa comunidade de Mães de Transição e famílias.

Estamos a aprender. A aprender a disponibilizar e a aceitar. A compreender como poderá funcionar uma eco-aldeia urbana que aqui sugerimos.

É uma revolução íntima, de dentro para fora, que faremos com amor e por amor. Com a generosidade e o poder pessoal que é investido na natureza das Mães.

 

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